Cotas Sim. Porque Sim!

Por Aline Alves Joaquim

Imagem retirada da internet.

Autor não identificado

Sou a favor das cotas raciais sim! Porque sou beneficiada. Com certeza. Me sinto no direito de exigir igualdade e reparação, não só eu, mas todos afro-descendentes, que por mais de três séculos carregaram essa nação as custas de muito suor e sangue, provendo as riquezas do país, que historicamente nunca podendo gozar disso. Muitos questionam com a justificação que os negros seriam privilegiados e favorecidos com as cotas, como se pedir que os ambientes tornem-se mais heterogêneos fosse algum absurdo, um negro ter o direito de avançar e ocupar seu devido lugar na sociedade.

Quando veio a carta de alforria, a qual não passa de um falso consenso da elite, que acompanhava uma tendência mundial de contenção de gastos, não aderiu conjuntamente qualquer tipo de política social, como educação ou saúde para os negros libertos, para que os caracterizasse como cidadãos. Com a migalha da liberdade fomos abandonados a própria sorte sendo marginalizados e taxados como a escória da sociedade. A lei Áurea não trouxe a liberdade e sim a desigualdade, fazendo com que o negro ficasse excluído da sociedade, sem estudo, sem oportunidade, a mercê de trabalhos secundários que os fazia antes, só que agora com a “liberdade”  em escolher como seu patrão alguém que o açoitou, quase que por troca de comida e agora sem ao menos moradia. Essa situação não mudou com as primeiras leis e sim sentenciou a anulação de direitos sociais e amparada com a ação enérgica da polícia militar e das milícias, fazendo prevalecer a hierarquização de raça e classe, que exterminava os jovens negros nas periferias. Esse extermínio se concentrou em maiores índices entre Pernambuco, Maranhão, Baixada Fluminense e São Gonçalo, lugares não por acaso remanescentes de quilombos (futuras periferias), essa segregação em nosso país se perdurou por muito tempo, para que os negros fizessem sua própria sorte, sem poder usufruir o que com muita dor construíram e ajudaram a desenvolver.

Isso não é exclusividade do passado faz-se um fato muito recente que reflete no racismo nos dias de hoje, levado à contra mão do desenvolvimento, mas que a elite não vê, não acredita, simplesmente por que não tem conhecimento de causa. Só um negro sabe o quanto dói à chibatada da discriminação que é perpetuada, através da negação de fatos históricos, tratados com menor importância, ter sua cultura rechaçada e tratada como nada. A qual foi oprimida e sufocada pela imposição da cultura eurocentrista como supremacia, que é outra forma de descriminação, usado no constantemente no sistema escolar brasileiro. Portanto, é necessária à criação de um contexto favorável aos marginalizados e oprimidos, para a recuperação da sua história, da sua voz, e para a abertura das discussões acadêmicas para todos, sendo tratada como conhecimento e não como folclórico.

O fim da escravidão, não foi á consagração da verdadeira liberdade, pois não se pode ser livre, sem emancipação econômica plena, sem inserção social e política, sem acesso aos bens culturais e econômicos, sem usufruir do fruto do trabalho que é a riqueza gerada pela nação.
Ainda hoje, as marcas desta época colonial e escravista estão presentes no Índice do Desenvolvimento Humano (IDH), que mede os níveis de educação, saúde e renda familiar da
população. O índice comprova o atraso histórico da população negra em relação aos brancos no Brasil. Ou seja, existe uma diferença sim no acesso a direitos básicos, entre brancos e negros.
Claro que bolsas sociais são necessárias, acho muito digno, pois uma das prerrogativas das cotas é de sanar a desvantagem da educação, uma compensação pelo ensino vergonhoso, fruto de desinteresse politico. Mas não apenas sociais e sim raciais, pois o racismo estrutural nos deixa fazer a leitura contundente de um jovem branco e um jovem negro, com todas suas variáveis equipadas e seus caminhos tomam rumos dicotômicos, simplesmente por um racismo enraizado e institucional que corrobora significativamente para essa situação. As cotas raciais são o mínimo de compensação de nosso atraso forçado, para enfim fomentar a construção de possibilidades igualitárias.

Pesquisas mostram que negros sofrem sim racismo, em diversos ambientes sentem -se acuados, humilhados, no trabalho, na escola e até mesmo em locais de lazer, então a desculpa de não ter cotas por não existir racismo não é válida. Também existe o medo de cair o nível do ensino devido aos cotistas, caiu por terra, pois também existem pesquisas que comprovam que os bolsistas tem igual ou melhor desempenho acadêmico, do que os não bolsistas.

Por fim pelo meu pai, meus avós, bisavós sinto- me digna e no direito de usar as cotas sem peso algum na consciência, exatamente por eles que não puderam usufruir de seus direitos básicos.

Nada vai tirar o sofrimento que nos causaram, mas já é um começo.

Postado originalmente em:  http://imprensafeminista.tumblr.com/post/93977893258/cotas-sim-porque-sim

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